1. – ORIGENS REMOTAS: A imigração italiana marcou profundamente o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e do Brasil. Coube a uma mulher, vinda da Itália, lançar as raízes e os fundamentos sociais que permitiram o surgimento da ACERGS. – Seu Nome: LYDIA MOSCHETTI! Lydia nasceu na região da Toscana, Itália, em 1888 e chegou ao Brasil com 18 anos de idade, na companhia da mãe, mais 8 irmãos, uma vez que o pai viera antes em outra leva de imigrantes.
Trazia na alma, como todos os italianos imigrantes, uma grande expectativa: “Como será esta América”? – Mas, Lydia trazia no coração um sonho muito especial: ajudar as pessoas com deficiência visual, conforme prometera a um compatriota carente e desprovido de visão.
Contava ela que ao vê-lo, ainda na Itália, num dia extremamente frio – cego e desassistido -, deu-lhe o lanche que levava, com a promessa de que haveria de ajudar as pessoas cegas, no dia em que pudesse. Jovem de personalidade forte e de muita iniciativa, desde logo Lydia conquistou significativo espaço na sociedade brasileira, afrontando, freqüentemente, os costumes da época, contrários às lideranças femininas.
Jovem talentosa, inclusive no mundo das artes, e afeita à participação social, Lydia conquistou o coração do Engenheiro Luiz Moschetti, italiano que representava a “Fiat” no Brasil e na América. Casaram-se e, mais do que uma família, formaram juntos uma parceria empreendedora e pioneira no sul do Brasil. Luiz Moschetti resolveu deixar a representação da “Fiat” para ter um negócio próprio. – Foram os anos mais entusiasmados, conforme entrevista dada por Lydia Moschetti, à Folha da Tarde, em 1947:
“Começamos uma fábrica de papelão, juntando papel velho do lixo. Duas mulas e dois carrilhos carregavam o papel do lixo para a única fábrica de papel do sul do Brasil: a LUIZ MOSCHETTI.” A fábrica prosperou e veio a funcionar na Av. Alberto Bins, em Porto Alegre, com o que foi notória a ascensão social da família Moschetti. Lydia Moschetti tornou-se uma mulher rica, fruto da prosperidade da fábrica de papel e porque tinha o hábito de investir em jóias.
Na década de 30, o casal já tinha uma vida abonada, e Lydia lembrou-se da promessa feita ao compatriota italiano – cego, carente e desassistido.
Refletiu, reuniu toda sua energia e fundou o Instituto Santa Luzia, “Ginásio e Escola Profissional para Cegos”, (em Porto Alegre, Av. Independência, 850/876), novdia 20 de setembro de 1941. A fundação do Instituto Santa Luzia representou o lançamento das raízes e os fundamentos sociais que permitiram o surgimento da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul.
2. – FORMAÇÃO DE LIDERANÇAS: De 1941 a 1967, passou pelo Instituto Santa Luzia uma geração de alunos com deficiência visual, estudando e vislumbrando horizontes. Nesse período formaram-se as necessárias lideranças voltadas ao movimento associativista.
Assim, 26 anos após a fundação do Instituto Santa Luzia, em 20 de outubro de 1967, foi fundada a Associação de Cegos do Rio Grande do Sul, cuja ata foi firmada por 99 associados-fundadores, em sua grande maioria, formada pela geração egressa do Instituto Santa Luzia.
3. – APOIOS RECEBIDOS: Registre-se, por justiça, que a liderança das pessoas com deficiência visual, eco e ressonância positiva da ação de Lydia Moschetti e da escola por ela fundada, contou também com o significativo apoio de muitas pessoas, sensíveis à causa e à promoção social das pessoas com deficiência visual.
Mencionam-se entre as pessoas que participaram desse processo de conquista: “Teresa Huber e Iracema Olinda Loira Dreyer, colaboradoras incansáveis, em todos os momentos e iniciativas em prol da criação da ACERGS. – Iracema Dreyer, pianista portadora de amaurose bilateral, recebia o apoio de Teresa, sua empresária e ambas devotaram permanentes esforços na busca da promoção social das pessoas cegas.
Ivo Castilhos Puignau: médico que, em sua vocação filantrópica, desempenhou papel preponderante no processo de fundação da ACERGS (elaborou o anteprojeto do estatuto), prestando ainda relevantes serviços médicos aos associados da novel entidade, sem cobrar quaisquer honorários.
Marino Mendes: notável espírito que, tendo adquirido um bilhete da Loteria Federal do repasse da ACERGS, foi contemplado com o primeiro prêmio e – conforme havia prometido – doou metade do valor recebido para a ACERGS, o que significou muito para o patrimônio da Entidade.
Cumpre registrar que, além de algumas contribuições particulares expressivas, a ACERGS recebeu – desde logo – contribuições mensais de um grande quadro de sócios cooperadores, representando valioso aporte financeiro mensal, destinado ao trabalho de assistência, manutenção da Entidade e consolidação do seu patrimônio.
4. – SOLENIDADE DE FUNDAÇÃO DA ACERGS: A Associação de Cegos do Rio Grande do Sul foi fundada no dia 20 de outubro de 1967, conforme a Ata de Fundação, registrada no Cartório de Títulos e Documentos de Porto Alegre: Eram 20 horas e 30 minutos quando, na sala 400 da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS), situada na Praça Dom Sebastião, nº
2, o Dr. Ivo Castilhos Puignau, eleito presidente da Assembléia de Fundação, deu por aberta a sessão solene de constituição da novel Entidade. – Convidou o Sr. Arno Ricardo Thofehrn para secretariar os trabalhos e passou à formação da mesa, composta, entre outras, pelas seguintes autoridades:
Capitão Milton Walrich, representando sua Excelência o Sr. Governador do Estado. Aderbal Barbosa Faria, representando Sua Excelência o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre e o Lion”s Clube Redenção. -Reverendo Alberto Bantel, representando a Comunidade Evangélica do Rio Grande do Sul. – Reverenda Irmã Helena Barbosa, Diretora do Instituto Santa Luzia. Lydia Moschetti, Fundadora do Instituto Santa Luzia e Cidadã Honorária de Porto Alegre.
Após os oradores fazerem suas manifestações relativas ao significado daquela solenidade, o Sr. Presidente da Assembléia, Dr. Ivo Castilhos Puignau, passou aos procedimentos protocolares de aprovação dos Estatutos Sociais da ACERGS e posse de sua primeira Diretoria, que ficou assim constituída:
CONSELHO DELIBERATIVO: (Titulares): Adolfina Quaresma da Silva, Angelin Loro, Arnildo Rudi Kochenborger, Claus Dieter Scheltzke, Francisca Pires Neubauer, Luiz Franco de Azambuja e Maria Pizatto Fumaco. – E suplentes: Adroaldo Antônio Duarte, Iracema Olinda Loira Dreyer e Jerônimo Fernandes Neto.
CONSELHO FISCAL: (Titulares): Francisco de Assis Navas, José Carlos Lappe do Prado e Maria Leonor Rocha Vizeu. – (Suplentes): Basílio Kunze, Lúcia Padilha Navas e Vera da Silva.
CONSELHO ADMINISTRATIVO: Waldin de Lima, Presidente. Laone José Franco de Azambuja, 1º Vice-Presidente (Departamento Previdencial). Marco Antonio dos Santos Bertoglio, 2º Vice-Presidente (Departamento Sociocultural). Antonio Quaresma da Silva,
3º Vice-Presidente (Departamento de Emprego e Reemprego). Evaldo da Silva Dorneles, 4º Vice-Presidente (Departamento de Indústria e Comércio). Francimar Torres Maia, Secretário. Celso Souza Dias, Tesoureiro. Jonas Lucas Roberto, Procurador Jurídico. Adeni Castorino de Souza, Relações Públicas.
A Assembléia aprovou, ainda, o seguinte grupo de assessores videntes, para os três concelhos: Sra. Teresa Huber, para o Conselho Deliberativo. Sr. Arno Ricardo Thofehrn, para o Conselho Fiscal. Sr. Dr. Ivo Castilhos Puignau, para o Conselho Administrativo.
A Sra. Lydia Moschetti foi eleita “Patrono Perpétuo da ACERGS”, como preito de reconhecimento por seus inestimáveis serviços prestados à causa das pessoas com deficiência visual e à Sociedade Rio-Grandense.
Completadas as formalidades de fundação da ACERGS, começou efetivamente a fase de trabalho e busca da concretização de suas finalidades: promover o desenvolvimento e integração social das pessoas com deficiência visual.
Inicialmente, a Diretoria realizou suas reuniões de trabalho nos escritórios da Associação Filantrópica e Educacional Mahatma Gandhi, situados na Rua Professor Anes Dias, nº 112; depois, já numa sala alugada, no Edifício Dab-Dab, localizado na Praça Pereira Parobé, nº 130, sala 215; mais tarde, no dia 29 de julho de 1969, a ACERGS assumiu a locação da sala 1607 da Galeria Nossa Senhora do Rosário, mais tarde adquirida em definitivo.
5. Assim a ACERGS entrou na história para ser protagonista. ACERGS, que foi a concretização de sonhos juvenis; ACERGS, que é participação e trabalho; ACERGS, que no futuro que será? Particularmente achamos que com estes dois ingredientes: SONHO e TRABALHO, poderemos fazer com que a ACERGS continue a ser também no futuro motivo de muito orgulho para todos nós.
Por isso, meus amigos, sonhemos alto, mas também trabalhemos com dedicação e amor pela causa da ACERGS, que é em verdade a nossa própria causa. Ajamos de maneira a tê-la sempre em nossa memória. Trabalhemos todos no sentido de comular de grandes realizações A MEMÓRIA DA ACERGS.